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terça-feira, 22 de setembro de 2009

CRÔNICA
Considerações sobre escritores e poetas

No "Caderno 2" do Estadão de 21 de maio de 1994, a escritora Rachel de Queiroz em sua crônica "Considerações sobre pintores e pintura. E Paris", assim iniciava a narrativa:
- "Nós, quero dizer, quem escreve, sempre tivemos uma imensa inveja dos pintores. Enquanto levamos dias, meses e até anos para levantar um personagem, dar-lhe corpo, cara, presença e, se possível sangue - eles, os artistas plásticos, com algumas poucas pinceladas, poucas manchas de tinta, põem o cara ali na tela, vivo, rebentando de ser gente, completo e falante como, Adão ao sair do barro pelas mãos do Criador. E o fusain, o bico-de-pena, o desenho? São recursos que, comparados aos nossos, nos causam ainda mais desânimo, vista a nossa pobreza.
- Um traço - às vezes um só traço! - conta mais que mil palavras; traduz riso, ironia, crueldade, bonomia, desprezo, amor!
E assim, enquanto eles pintam, como mágicos, a gente vai labutando na caneta, na máquina, até no computador...".
Gentileza dessa grande e saudosa escritora. O romance, o conto, a crônica, a poesia, são elaborações que brotam do fundo da alma de quem os faz, assim como as criações das artes plásticas. Criar para o artista, é compor o real com o irreal, o objetivo com o subjetivo, o presente com o devir. É transpor os limites da imaginação e da pessoalidade, para participar do processo de socialização da humanidade.
Assim, o artista plástico por sua vez, sente os arroubos de invejar também os escritores e poetas, que da pena, ou dos mais sofisticados recursos gráficos, imprimem suas construções parafraseadas que materializam cenas tão vivas, personagens tão expressivos, que às vezes, por mais que tente, ele não consegue sintetizar na concepção de sua obra.
Ser artista é ter momentos de criação, e, se dizia a nossa cronista que "artistas plásticos têm a forma, a dimensão física, o colorido, a perspectiva, o risco implacável", afirmo por minha vez que, escritores e poetas têm perfeita concepção de tais recursos, e, conseguem de forma ímpar passá-los em suas criações literárias.
Eu também os invejo!

Hilário Domingues Neto

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